Caro Professor


Este blog nasceu após muitas conversas com os colegas professores, no cotidiano das escolas, nas salas dos professores, nos corredores, nos cafezinhos, como também em muitas reuniões.
Fomos descobrindo que a Ideologia, identificada com o neoliberalismo, tornara-se nossa maior inimiga, muito mais até que o próprio Sistema e do governo que o mantém.
Descobrimos que a luta concreta está no ter a consciência de toda influência ideológica no fazer a educação, na atuação dentro da sala de aula, no discurso pedagógico do professor. E que a fala e o agir dos dirigentes governamentais têm se prestado para a manutenção do espírito capitalista na educação.
Longe de nós o fanatismo esquerdista. O problema é que a culpa da educação andar capenga fica somente nas costas do professor. As Secretarias de Educação têm um discurso confuso que utiliza linguagem da esquerda para manter posicionamentos de direita, deixando a impressão que deram toda contribuição e subsídios para que a educação seja transformadora dessa sociedade consumista e do lucro, onde o ser humano vale menos que o capital. Daí este blog que ora apresentamos para sua apreciação e principalmente para sua opinião e debate.

Última atualização em 07 de agosto de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011


APRENDER A APRENDER NA EDUCAÇÃO PÚBLICA 
Funções e disfunções do construtivismo no contexto da sociedade de consumo capitalista
Mário Aparecido de Lima
Orientador pedagógico no ensino fundamental municipal

Pretendemos dialogar e relacionar as práticas pedagógicas presentes nos programas da rede pública na qual estamos em atividade profissional, com o texto do Professor Newton Duarte inserido no livro “Formação de Professores: Limites Contemporâneos e Alternativas Necessárias” organizado com a Professora Lígia Márcia Martins, ambos da UNESP de Araraquara, estado de São Paulo. O texto com o qual  dialogamos se intitula “O Debate Contemporâneo das Teorias Pedagógicas”, no qual ele faz uma crítica ao construtivismo na concepção de Jean Piaget e às pedagogias do aprender a aprender no contexto da sociedade de consumo capitalista. A relação será realizada embasada nas práticas docentes e de gestão, principalmente, no que diz respeito às pedagogias das competências e multiculturalista.
PEDAGOGIAS e pedagogias, uma introdução. 
Formar profissionais da educação básica em serviço deveria ser encarado pelas redes públicas como um grande desafio e uma grande necessidade a ser priorizada, principalmente no tocante aos coordenadores pedagógicos e professores, onde o primeiro é o gestor do currículo, das políticas educacionais e seus programas e o segundo os condutores finais destes itens, que chegam até as salas de aula desde a educação infantil até a educação de jovens e adultos.Quando nos propomos a debater o construtivismo sob as teorias de Jean Piaget e suas implicações na didática por meio das pedagogias do aprender a aprender, a exemplo da pedagogia das competências e multiculturalista, pretendemos relacionar as práticas docentes que ocorrem nas realidades de cada unidade escolar de nossa área de abrangência, para que as mesmas sejam repensadas pelos seus condutores e gestores, para haver uma desestabilização inicialmente necessária, rumo a transcendência para uma nova prática: a transmissão do conhecimento historicamente acumulado pela humanidade.Transmissão essa que foi demonizada durante décadas nas pedagogias apresentadas por meio da máxima ”Aprender a aprender”, ilustrada por subpedagogias, que a exemplo das citadas acima, corroboram para uma sociedade de consumo inerte e retrógrada na produção de novos conhecimentos a partir dos já existentes. Principalmente a camada da sociedade que utiliza o aparelho estatal como única alternativa de se apropriar dos conhecimentos dos quais nos referimos, e sem poder escolher qual pedagogia será aplicada para esse fim e qual concepção de Educação ele está sendo submetido.
O presente texto está estruturado em três partes, onde abordaremos inicialmente de qual transmissão de conhecimento estamos falando, em seguida é conceituada a pedagogia do aprender a aprender e suas subpedagogias e finalmente a correlação de nossas práticas com a abordagem do texto. Como conclusão apresentamos a transcendência como alternativa de mudança.
A transmissão do conhecimento acumulado e suas faces na escola pública.
Se analisada à luz do positivismo, como estudo das relações existentes entre os fatos que são diretamente acessíveis pela observação, essa transmissão entra em conflito com os objetivos da educação básica, que na atualidade, passou a utilizar fortemente o termo construção do conhecimento, reforçada pela pedagogia do aprender a aprender. Segundo Duarte, a pedagogia do aprender a aprender tem em sua tônica a negação daquilo que chamam educação tradicional, então se apropriam de teses e teorias do construtivismo, em especial a de Jean Piaget, para justificar sua aplicação didática com forte predomínio nas referências e nos programas disponíveis para este nível.
Como se fosse possível para a sociedade em sua atual configuração capitalista, superar os problemas advindos desta configuração, por meio de programas educacionais desenvolvidos para tal. Programas de saúde emocional, em tese sanariam questões como o bullying, programas de inclusão digital e educação empreendedora sanariam as questões de desemprego, aulas de educação ambiental agregariam à vida dos estudantes valores de sustentabilidade, manter crianças por um tempo longo dentro da escola e acreditar na integralidade, entre outros programas criados com esse intuito, desprezando condições sociais e econômicas conjunturais a que essas pessoas estão submetidas, resfriaria uma possível crítica às políticas educacionais. O poder público teria como argumento serem estas ações necessárias e que partiram do anseio da sociedade e que estariam sendo desenvolvidas pela escola.
Compreendemos que aprender a aprender parte do aqui e agora, sem se preocupar com a totalidade, então, o conhecimento perde sua objetividade e universalidade no aprender a aprender. O relativismo provocado por essa pedagogia se contradiz com o currículo, já que o mesmo passa a ser fragmentado em culturas diferentes, uma para cada nuance humana, índios, homossexuais, mulheres, homens, negros, entre outras. Então seriam criados tantos currículos quantos fossem necessários na educação básica da escola pública? Ou tantos Projetos quantos forem os temas? Isto resultaria na formação de professores para sair da posição de mediador do patrimônio universal de conhecimento para negociador de temas do cotidiano destas culturas.
Essa pedagogia faz parte dos trabalhos da escola pública muito mais pela sedução dos leitores pelas obras voltadas para o assunto, do que pela sua fundamentação teórica.
A transmissão a que nos referimos é a deste patrimônio de conhecimento. Como o objetivo da Educação é a de que os estudantes se apropriem de toda esta produção, isto deverá ser o grande foco da formação do professor, no sentido das técnicas, das teorias de aprendizagem, e este professor se encarregará de mediar a entrega deste conhecimento acumulado pela raça humana em sua passagem pelo planeta às gerações subsequentes, e não apenas reduzir este conteúdo ao seu cotidiano já tão imbuído dos interesses políticos e econômicos burgueses que permeiam seus meios e suas formas de existência.
Não queremos aqui advogar em defesa da volta de metodologias antigas, mas sim indicar a necessidade de formação do professor sobre as hipóteses e teorias de como os estudantes se apropriam do conhecimento, e assim repensar suas práticas.
Sobre o “Aprender a aprender”
Falar sobre o construtivismo em poucas linhas não é o ideal, já que essa vertente pedagógica possui dentro dela mesma, várias correntes. Mas justifica-se para atingirmos o objetivo central do texto.
Jean Piaget na sua epistemologia genética propõe que o conhecimento humano é promovido pelo esforço de adaptação do organismo ao meio ambiente, por assimilação e acomodação do objeto de conhecimento. Para a pedagogia em voga isso significa que as atividades de maior valor são aquelas que promovam o processo espontâneo de desenvolvimento do pensamento. Nesta perspectiva não importa o que o estudante aprenda por meio do conhecimento escolar, o conteúdo é apenas um meio para desenvolver um método ativo de construção do conhecimento.  Esta proposta vem ao encontro das pedagogias do aprender a aprender e suas subpedagogias incluindo a do professor reflexivo, a da multiculturalidade e a das competências de Phelippe Perrenoud.
A prática docente na escola pública e suas relações com as pedagogias do aprender a aprender
É muito comum ouvirmos nas reuniões dos professores diversas críticas sobre as correntes pedagógicas que estão em uso pelas escolas públicas. As redes por sua vez, constroem documentos referenciais a partir de assembléias entre os profissionais da educação representados por diversos segmentos. O que se vê nesses impressos são equívocos generalizados por meio de uma verdadeira colcha de retalhos de tendências pedagógicas, embasadas em teorias que muitas vezes não se complementam, mas se opõem e, por falta de leitura e de ausência total de estudos aprofundados, erros são reproduzidos, e acabam por embasar e validar a prática docente que se verticaliza até a sala de aula sem grandes questionamentos.
 Constata-se nos planejamentos que, o que são apresentados é a reprodução dos equívocos da aplicação didática destas tendências pedagógicas, reforçando quase sempre a lógica do capital e do consumo que se reproduz nas aulas. Supervalorizam o cotidiano dos estudantes como ponto de partida para os estudos e muitas vezes não avançam rumo ao conteúdo do patrimônio de conhecimentos acumulados pela raça humana nas diversas áreas das ciências.
Em muitas aulas de matemática, o professor traz em seu plano de aulas, um panfleto com propaganda dos preços de supermercados, isto está no cotidiano do aluno? Talvez sim, mas também está no cotidiano da família do aluno, as dificuldades que encontram para comprar os produtos do panfleto e outros, e este é apenas um pequeno exemplo em um universo muito maior de fatos e situações a que o estudante e sua família estão submetidos na sociedade do consumo.
Superando o empobrecimento do cotidiano humano na escola: Transcendência
A pedagogia do aprender a aprender faz do cotidiano do estudante em sala de aula o grande ponto de partida para se apropriar dos conteúdos do currículo escolar, porém o cotidiano humano vai muito além do que a pedagogia do aprender a aprender o coloca em seus estudos. Ampliar o conhecimento dos estudantes por meio do seu cotidiano pode e até acreditamos ser útil desde que não se prenda aos limites da sociedade de consumo, e que faça os alunos perceberem a existência de outros conhecimentos que se conectam para explicar os diversos fenômenos sociais e econômicos que os afetam e que eles podem transformar por meio da produção de novos conhecimentos.
Faz-se necessário superar as formas burguesas presentes na escola, sem negar a transmissão dos conhecimentos mais evoluídos que já tenham sido produzidos pela humanidade, por meio da formação intelectual e profissional dos professores.
Bibliografia

DUARTE, Newton; MARTINS, Ligia Márcia. (orgs) Formação de professores limites contemporâneos e alternativas necessárias, São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

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